SESC Nova Iguaçu – 20 de maio de 2010.
Professor Nicolau Salerno
Que literatura popular é esta, que tem tanta importância no Nordeste brasileiro, é tema de estudo na Europa e pouco inserido nos livros de Literatura em nossas escolas?
CORDEL – Nome dado à literatura popular, feita pelo povo e para o povo. Este tipo manifestação cultural – a que conta as histórias do povo, começando pelas regionais – tem origem na Europa e se fortaleceu no século XX, no Nordeste brasileiro. Em forma de poesia, o cordelista, cantador e repentista, conta as suas histórias de forma criativa. Os livretos impressos com estas obras eram e ainda são vendidos presos em cordas, daí o nome cordel.
Nessa oficina – Na Roda do Cordel – fizemos uma pequena viagem sua a sua história e apresentamos trechos em cordel de obras clássicas da literatura brasileira, entre elas “Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e de obras da literatura mundial, como “O Cordunda de Notre-Dame”, de Victor Hugo, e da “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll.
A presença do repentista Miguel de Bezerra ilustrou com sua viola esta arte tão importante na nossa cultura. Fez repentes, improvisando com o público e cantando obras dos cordelistas do Brasil.
Os alunos de escolas públicas de Nova Iguaçu formaram uma plateia interessada, participativa e colaboradora. Foram simpáticos e mostraram que estão abertos a aquisição de todas as culturas. Palmas para eles. Certamente, serão profissionais competentes e habilidosos no futuro.
O SESC, Nova Iguaçu, através do setor Biblioteca e suas colaboradoras Eliane e Sônia, tem sido palco de eventos com esta qualidade. O resultado não poderia ser diferente: o SESC escreve sua história na cultura brasileira.
Quanto ao Cordel, quer conhecer mais? Faça uma visita à Feira de São Cristóvão e conheça o centro de cultura popular, com obras escritas e seus cantadores, como o repentista Miguel Bezerra.
Aqui estão trechos de algumas obras:
Poeta baiano Varneci Santos do Nascimento, revelação da poesia popular, autor de cerca de 150 folhetos de Cordel, conta-nos a história de Brás Cubas pelo olhar popular, mas respeita a integridade poética de Machado de Assis.
Com a pena da galhofa,
Tinta da melancolia,
Vou contar depois de morto
Como eu vivi um dia,
Cumprindo uma obrigação
Que para o mundo eu devia.
Para não ser trivial
Como fui quando vivi,
E por ser Memórias póstumas
De Brás Cubas, isto aqui,
Trata-se de minha história
Feita depois que morri.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Clássico da literatura infantil, lançado em 1865, do autor inglês Charles Lutwidge Dogson, usou o peseudônimo lietrário Lewis Carroll. “Alice cai num poço e vai parar um mundo paralelo. Lá persegue o Coelho Branco e recebe ajuda do Chapeleiro Louco.”
O poeta João Gomes de Sá, faz uma versão bem particular desta obra e adapta à realidade do nordeste. Vejamos algumas passagens:
Nas veredas do cordel, sigo
As mais bonitas trilhas,
Vou compondo minha história
Em canções e redondilhas.
E, sem cometer tolice,
Narro a história de Alice
No País das Maravilhas.
Por lá viu rios de leite,
Montanhas de goiabada,
Castelos de rapadura.
E árvores de marmelada.
Suspirou muito porque
Somente em São Saruê
Tal riqueza era encontrada.
O CORCUNDA DE NOTRE-DAME
Obra de Victor Hugo, trata do amor impossível entre o corcunda Quasímodo e a cigana Esmeralda. Impossível porque Quasímodo. Além do “defeito” físico, é quase surdo, o que o isola do mundo. Seu refúgio é a catedral de Notre-Dame, em Paris.
O poeta João Gomes de Sá, nesta versão para a poesia de cordel, transporta para uma pequena cidade do Nordeste Brasileiro. Quasímodo se torna Quasimudo, o sineiro da Catedral de Santana.
Numa cidade chamada
Santana de Cajazeira
Todo ano acontecia
A tradição verdadeira:
Festejos em homenagem
Para a Santa Padroeira.
(Um parêntese aqui abro,
Do Corcunda vou falar:
Muito cedo, inda criança
Foi deixado no altar
Da Catedral de Santana,
Abandonado, sem lar.